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O GÊNIO DA VERTENTE DO CAPARAÓ

A arte é uma apreensão desta genialidade que, única na natureza, faz o homem apaixonado reproduzir, por milhares de aspectos de sua atividade, o gesto de criação que o condena pelos séculos seguintes a um perpétua ultrapassagem. SALVADOR MANTUANO foi um gênio desta natureza. Sua principal obra está na igreja matriz de Nossa Senhora do Rosário, de Entre Folhas.

É a arquitetura ocupação do espaço, arte que abriga outras, a pintura, a escultura, a música, o teatro. Oferece lugar para reuniões da comunidade, as de confissão e as de reivindicação. Para quem é puro, tudo é sagrado. Assim, a matriz de Entre Folhas compõe com o Largo, e seu ex-coreto, o lugar maior onde os entre-folhenses se encontram.

Salvatore veio da itália tangido pelos tempos duros que seguiram-se à carnificina da Grande Guerra de 1914/1918. Pelas mãos de um primo ilustre, o Padre José Lanzillotti (1888-1959), chegou a Entre Folhas no dia primeiro de maio de 1938. Ao heroísmo invulgar do então pároco daquele distrito de Caratinga tem-se a casa paroquial o hospital e a MATRIZ DO ROSÁRIO, enfeitiçada pela arte de Salvador. A água potável do hospital foi trazida em canais de pedra pela inquebrantável força do pároco. Tocado pelo esplendor divino, Salvador salpicou de arte a Vertente do Caparaó, de Ubaporanga a Divisa, de Santa Rita de Minas a Tarumirim, de Entre Folhas a Caratinga. Falta fazer-lhe um levantamento completo das obras. O modesto artesão não assinava, mas tudo era obra de arte, até um simples genuflexório.

Observe-se a Matriz do Rosário e tem-se uma construção alta, equilibrada nas proporções, leve mesmo, cujo corpo principal é sustentado por seis contrafortes de cada lado. Trata-se de um templo neo-clássico, simétrico, janelas arredondadas, motivos clássicos na fachada. A forma é de cruz latina. No interior, três naves, sendo a nave principal mais alta e sustentada por colunas clássicas compósitas. Ao fundo, a imagem da Senhora do Rosário. Os altares laterais abrigam a Senhora das Graças e São José.

A glória suprema está nas paredes e no teto. Salvador "dedilhou" os 15 mistérios do rosário, rezado correndo os dedos pelas 55 (mais 4 e a cruz) contas de cada terço. São ao todo 150 aves-maria, 15 padre-nossos, 15 glórias-ao-padre, 15 oh!-meu-jesus, 15 "contemplamos" e uma salve-rainha, precedida de três aves-maria. Os "contemplamos" (mistérios) gozozos estão pintados à esquerda, os dolorosos à direita, os gloriosos nas grimpas centrais. Siga-se sempre na direção do altar. O ultimo mistério glorioso é o céu para onde o imaginário católico destina os batizados que viveram de acordo com os preceitos.

Surgiu a reza do rosário na Idade Média, com São Domingos. O não católico não a pratica. Não tem importância. O que conta é a beleza da Matriz do Rosário, esta jóia arquitetônica que não tem encontrado desde que o Padre José morreu e Salvador se mudou para Belo Horizonte, o carinho que um entre-folhense da gema sabe dar. Não convém lambuzar de tinta o que um gênio fez. Artistas como Quinca Moisés, Salvador, Josias, este justamente reverenciado nestas páginas eletrônicas, precisam ser melhor conhecidos das novas gerações. Abramos espaço para novos artistas, como Elias do Roldão, felizmente mostrando algo de sua criatividade aqui nesse mundo virtual em que você, caro internauta, navega.

Hélio Amaral (Rio)
quimquim@terra.com.br