ENTRE-FOLHAS QUE HÁ MAIS


Sempre chegam à minha cabeça um pensamento pesado, umas idéias que não vivem dentro do sentido. Você, entre-folhense, já teve muito! A idade acode, a saúde vai para o estaleiro do equilíbrio, as raízes fortificam o sono É o quintal saltitando de canarinhos e rolinhas, muitos, de juritís ariscos, poucos. Dormir é bom descanso. Mas não consigo afastar os divagos do Rio Entre Folhas latejando cascudos, traíras e sapos. Mas que diabo, a mudança que se vê no mundo, de onde é que vem?

Sei não, ás vezes penso que é destino a placa do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, no trevo de acesso da Rio-Bahia para o mundo sem traumas de nossa infância, conter um erro indicial, inoperante, porém constrangedor. Emplacado, implacável, impraticável, desde a abertura do trevo, está lá o despautério ENRTE FOLHAS. É um choque! E nós, espalhados por todos os cantos do Brasil, choramos e declamamos nossos versos pelo sabiá que não há mais. Por um "fenômeno da natureza", a tromba d’água do dia 16/01/2003 destruiu a ponte. Houvera o aguaceiro levado a maldita placa!. Não, continua de pé o pungente ENRTE.

Escrevo porque não me canso de matutar sobre os causos do Pau da Grosa, do banco de tábua na frente da venda do João Campos, da farmácia do Orestes Paiva, do coreto no Largo da Matriz, das mansões do João Ribeiro, do João Qinquim, do Avelino, do Chiquito Lopes, do Nico Moisés. Quando meu velho pai vivia nos canfundós do Córrego do Oriente, trazia os filhos para a Missa do Galo na Matriz de Nossa Senhora do Rosário.

A Matriz! Subi penuriosamente o ponto mais alto, abaixo do cruzeiro na cúpula central. Umas vezes, na infância arteira, arrisquei naquelas altitudes. As escadas estão podres, o sino com as armas do Imperador está suspenso por arame farpado enferrujado, o órgão contaminado por dejeto de andorinha. Quis gritar meu desalento para o resto do mundo. Não escrevo mais para não aumentar o sofrimento.

Resta à cidade, além do conjunto da matriz, razoável patrimônio arquitetônico a ser preservado. O Largo, quase descaracterizado, ainda tem edifícios históricos. E então tive um sonho. Ponho no sítio eletrônico de Entre Folhas, na página do virtual, meu devaneio. Ei-lo:

1. Salvar o Rio Entre Folhas, a nascente, a floresta ciliar.

2. Levantar o patrimônio arquitetônico, urbano e rural. para fins de tombamento e custeio de manutenção.

3. Restaurar a Matriz preservando a arte dos afrescos.

4. Restaurar o Órgão da Matriz em todo o esplendor.

5. Declarar e passar em cartório que o entrefolhense é cidadão cem por cento.

Hélio Amaral - jornalista

helio17@bol.com.br