LAIR ALMEIDA (Continuação)

Em época de eleições, já tive a oportunidade de dizer aqui neste espaço, que os ânimos ficavam bastante acirrados.

        
Eram candidatos a vereador, Milton Vieira pela UDN e Benevides Porcaro pelo PSD. Em cima de cada alternativa e na defesa do partido, tudo valia e cada um se utilizava do meio de que dispunha, para propagandear as virtudes e a certeza de vitória de seu ungido.

         Orestes de Paiva, líder inconteste do PSD, com a graduação de “capitão”, como lhe chamavam os mais próximos, apoiava Benevides.

         Farmacêutico graduado, era dono da Farmácia que legou a “Zé Andrade” juntamente com seu espólio político. Largamente conhecido, apesar de sua sisudez, tratava a todos com respeito e até mesmo com uma certa simpatia. Não me recordo de vê-lo, com freqüência, dando “sopa” nas rodinhas de conversa que se formavam em qualquer lugar que fosse., mas, tinha um relacionamento um tanto quanto respeitoso até mesmo com seus adversários políticos, se bem que distante.

         Certo dia, em um de seus passeios, passos pausados e lentos, mãos às constas, como era costume seu, à frente da oficina de meu pai, adentrou ao recinto como o fazia às vezes(meu pai trabalhara em sua farmácia quando moço) silenciosamente e com toda discrição que lhe marcava. A oficina eletrônica era ponto de encontro dos udenistas históricos, e como sempre estava cheia deles.

         Sobre o balcão, havia eu deixado uns versinhos sem métrica e sem harmonia, extraído não sei de onde e que já havia servido de deleite para todos quantos ali passaram naquele manhã:

          “Pica-pau picou o pau
         Benevides fez a canoa;
         Milton Vieira entrou dentro,
         Orestes de Paiva ficou a toa.”

         Enrubesceu-se o “velho líder”: “quer dizer então que Orestes de Paiva ficou à toa...” e repetia, repetia, com seu gesto característico de bater pausadas palmas; e o seu olhar fuzilava, na direção de Lair Almeida, enquanto mais e mais repetia o último verso: “quer dizer então que Orestes de Paiva ficou à toa; muito bem, muito bem...”. Agachado num canto da oficina, Lair se contorcia todo de olhos arregalados e num misto de medo e susto, respondia que não era ele o autor da trova.

         Foi-se embora Seu Orestes. Lair tomou um copo d´àgua e suspirou aliviado. E os udenistas presentes? Ah! caíram numa gostosa gargalhada e ficaram à espera do resultado das eleições. Ganharam Milton e Benevides, pois nas eleições proporcionais, ambos conseguiram alcançar o quociente exigido.

Dr. Wagner Martins


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