"SEM
ÓDIO MAIS COM JUSTIÇA..." |
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Que
origens ou influências prováveis, tivera nossa praça!? Dela não se
contam muitas histórias, apesar dessas histórias se encontrarem
reclusas em suas entranhas. Dizem que numa certa época, tinha um coreto
no centro, onde as pessoas falavam discurso, enquanto um senhor, à sua
volta, desembainhava uma espada, no comando do grupo de escoteiros.
Chamava-se Largo da Matriz. Influência com certeza, vinda da
Corte; Largo do Rosário, da Lampadosa, etc.(lembram do Tiradentes?)
Quando a conheci, já não mais existia o pequeno coreto de
madeira. Seu porte, era de um descampado vazio e gramado, mais parecido
com terreiro de fazenda, cortado em quatro partes por trilhos, que
formavam um grande xis, interligando Rua de Cima com Rua de Baixo e Rua
dos Porfirios com Rua da Barreira.
Durante as comemorações da Semana Santa, transformava-se num
grande palco, onde todas as coisas aconteciam; procissão do Encontro, a
encenação da crucificação, Maria Beú, e quem não se lembra das
rodas de fogo e girândolas, fabricadas por Brás Quinquim, produzindo
espetáculo pirotécnico digno de Revellion de Copacabana! Mês de maio,
era todo festa. Com pessoas vindas de todos os lados, seu entorno
pululava de barraquinhas vendendo quitanda e café com leite. Uma
barraca maior se posicionava em local de maior privilégio na praça,
onde "Sô Caetano" , com voz tonitruante, gritava o leilão: "dou-lhe uma..., dou-lhe duas..,. e dou-lhe as três".
Olhada do fundo, via-se, e vê-se ainda, a imponência da Igreja
Matriz, nosso maior cartão postal. Dizem que noutros tempos era
diferente sua constituição, mas ainda hoje, pode-se ver nesta
descrição todo o seu complexo: o prédio onde funcionaria o hospital,
à direita, a igreja ao centro, à esquerda, num plano mais ao fundo, a
Casa Paroquial tendo bem à sua frente o Coreto, onde brincávamos de
"partir o queijo"(a brincadeira consistia na ocupação dos
quatro cantos do coreto, com uma pessoa no centro. Os ocupantes dos
ângulos deveriam trocar de lugar e quem ficava no centro, tentava
conquistar a vaga). No centro, como um peão, um grande poste de "braúna",
sustentava o emaranhado de fios de eletrificação, que mais parecia uma
ramagem de "erva-de-passarinho", dessas que proliferam
sobretudo na copa das mangueiras.
Registrando os momentos líricos do Largo da Matriz lá num
canto, à frente e à sombra do Coreto, estava o "Pau-da-Grosa"
. Certa ocasião encheram a praça de bancos, fabricados por "Zé
Bermiro", mas quem disse que alguém deixava de sentar no "Pau-da-Grosa"
para ocupar os bancos novos!?
Dizem que sua origem remonta aos primórdios da praça, quer
dizer, do Largo. Uma pequena "tora" de madeira, servindo de
banco. Por ela, ou por ele, os personagens que fizeram nossa história,
tiveram assento, desde João Cláudio a Valdemar Patrola e Silvio
Caiana. Uns se foram, outros ainda por aí estão.
Tudo se discutia por ali. Vida alheia, futebol, política, etc,.
dependendo da hora e da turma de plantão.
Por volta de 1964, Israel Pinheiro, do PSD, elege-se ao Governo
de Minas, impondo fragorosa derrota a Roberto Resende, da UDN; o
resultado deixou todo mundo em suspense. O futuro da política local era
mais que nebuloso; fatos estranhos ocorriam em nossas ruas; as duas
facções(PSD e UDN) não se falavam; o fausto da vitória pessedista,
contrapunha-se à ressaca da UDN; e naquela manhã, o Pau-da-Grosa
amanheceu encimado por uma grande faixa, bem escrita, onde se lia: "Sem
ódio, mas com justiça; Israel é o novo Governador."
A efervescência dos anos que se seguiram, não se permitiu
decifrar o enigma da frase, ou presenciar a materialização de sua
mensagem, que só bem poucos poderiam ou puderam entender.
Israel governaria por um lustro, onde era prudente não se falar
muito.
Suspensas as garantias individuais, estabeleceu-se com mão de
ferro, o controle sobre a vida das pessoas; amiudaram-se as discussões
políticas no Pau-da-Grosa que passou a acolher gerações mais novas,
onde a conversa girava em torno de assuntos de menor abrangência, até
que desapareceu a "tora" de madeira(dizem que Sô Genuíno,
sempre com um canivete à mão, cortando um pedacinho de qualquer coisa,
quase a reduziu a um graveto), marco da pracinha, de presença bem mais
nítida que todo o seu complexo arquitetônico, sem que com isso,
tivesse desaparecido a idéia e o "sentimento Pau-da-Grosa",
em todo entrefolhense que se preze.
A grande enchente do início da década de 80 lavou nossas ruas,
revirou nossas entranhas, trouxe de volta aquele sentimento que
adormecia em nossas reminiscências. Porque não, refazer o "Pau-da-Grosa"!?
Com o estímulo e a ajuda do saudoso ex vereador Ailton Rossoli, o
reconstruímos; no mesmo cantinho, mesmo lugar, quase que com as mesmas
características. A reação foi fulminante. A disputa por um lugarzinho
no "Pau-da-Grosa" era tamanha, que era preciso chegar cedo.
Os anos passaram e a cidade veio. O Largo, virou Praça Padre
José Lanzilotte; construiu-se e descontruiu-se jardim. A
"tora" de madeira não mais existe(apodreceu, foi comida pelo
tempo, ou alguém a reduziu a um simples graveto?), mas, com certeza
ninguém desgruda de nossa lembrança, o "Pau-da-Grosa".A
denominação, com certeza deverá ter sido cunhada por "Zezinho
Sujeira", seu grande freqüentador. Certeza apenas, é que jamais o
apagaremos de nossa história, pois sem ele, Entre Folhas não teria
sentido lógico. Dr. Wagner M. Martins |
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